segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Essa é a (falta de) estrutura da saúde de Campos

A Paciência do Paciente

Por Jardeliane, Pâmella, Kíssila, Cíntia, Priscila dos Reis

Mesmo diante das riquezas de Campos, pessoas mendigam ficha em filas de hospitais


Quantas contradições ou seriam contravenções? Bom, é fato que entra governo, sai governo, a saúde pública na cidade de Campos dos Goytacazes continua doente. Quanta ironia ver o povo de uma cidade tão rica, graças a uma receita anual média de R$ 1 bilhão, viver de migalhas.
Migalhas essas, claramente vistas na manhã fria e chuvosa do dia 18 de setembro de 2008, expressadas nos olhares tristes e vagos das pessoas, que, sentadas ou em pé nas filas dos hospitais, olham para os lados esperando um socorro. O coração batendo mais forte a todo instante que um profissional com jaleco branco aparece por de trás da porta, na esperança de uma consulta, de uma atenção.

E de sobressalto, essa esperança se desfaz, seja pela falta de profissionais, pelos equipamentos em situação precária ou graças à deficiência de leitos nos hospitais. O que impede a liberação de fichas e exames clínicos.

Esse é o caso de uma senhora simples e muito faladeira, cujo nome é Maria Ana da Silva, de 68 anos, doméstica, de cor clara, cabelos grisalhos e olhos bastante cansados. Maria aguarda, desde as 4h, na fila, à espera de uma ficha para ser atendida por um reumatologista. Porém, nada adiantou, sua consulta foi marcada para daqui a 60 dias.

Além da dor da alma, de saber que mora em uma cidade que dispõe de tantos recursos e que ainda assim carece de um bom sistema de saúde pública, Maria volta pra casa com sua dor na coluna. Sem sua consulta, como também sem os exames. Em novembro 2007, Dona Maria conseguiu marcar um exame de ressonância magnética que nunca foi feito. Segundo dona Maria, os funcionários disseram que não houve repasse de verba da Prefeitura para os hospitais.
Campos têm sete hospitais conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com a Prefeitura, são eles o Hospital Ferreira Machado, Hospital Geral de Guarus, Hospital da Beneficência Portuguesa, Hospital Escola Álvaro Alvim, Hospital dos Plantadores de Cana, Santa Casa de Misericórdia de Campos e Hospital São José, mas o destino dos enfermos que amanhecem nas filas dos hospitais ainda é incerto.

Na espera por alguma informação concreta, os burburinhos são inúmeros. Os pacientes queixam-se das indicações de tratamentos dados a eles. Revoltada, a doméstica Célia Soares de Matos, 63 anos, gritava e falava com veemência contra o tratamento dispensado a ela pela Saúde Pública. Portadora de artrite, não pôde ser atendida na emergência, pois segundo ela, o seu médico atende na Santa Casa só uma vez por mês. Célia conta que foi para casa sem atendimento e sem orientação para procurar outra unidade de Saúde.

A saúde da maior cidade do interior do estado do Rio de Janeiro agora agoniza a espera da volta de terceirizados. O que era pra ser um programa de prevenção de doenças e atendimento a pessoas que não podem sair de suas residências, transformou-se em uma polêmica manobra política. Um entra e sai de pessoas que dependem de seus salários e não têm culpa da desonestidade de alguns. Assim funcionou e funciona o Programa Saúde da Família em Campos, enquanto Célias e Marias têm de ir para as filas de madrugada.

A Constituição Federal diz que a “saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos”. É lamentável no momento em que mais a população precisa de ajuda não recebe. Onde está a qualidade de vida tão aguardada com os royalties do petróleo? Parece que as pessoas ficam a mercê de algo que é direito delas. O futuro, o que ele reserva? Aguarda-se uma saúde pública de qualidade.